Foram 22 cansativas e extenuantes horas de voo para enfim desembarcar na Nova Zelândia, terra do Kiwi, constituída de duas ilhas principais com seus 4,4 milhões de habitantes, sendo formados por aproximadamente 86% de descendência europeia e 14% Maori, nativos que primeiro se instalaram na ilha trazendo os costumes polinésicos.
A fim de aprender um pouco sobre a rica cultura Maori, povo com fenótipo próprio facilmente identificado pela forte estrutura óssea e cor morena, aluguei um carro com volante ao lado direito e rumei da turística e bonita capital Auckland na “contra mão” por 300 km até Rotorua, cidade que abriga uma intensa atividade geotermal e piscinas de lama fervente, além de um parque que centraliza costumes do povo Maori, possuindo também diversos gêisers para observação.
Durante nosso trajeto tive a oportunidade de fazer diversas paradas de carro para vermos um pouco da pecuária da ilha norte, onde observamos por vezes de 300 a 400 vacas Holandesas ou Jersolandas no mesmo pasto, sendo esse formado por pastos de verão e por vezes leguminosas consorciadas, as quais são transferidas de piquetes diariamente, sendo tais divisões separados por uma simples fita eletrificada. Pudemos também verificar que são adeptos da irrigação dos piquetes com chorume na saída dos animais, mantendo assim um nível de produção de forragem altíssimo.
Já no gado de corte, encontramos na maioria das propriedades raças inglesas como o Hereford, Angus, cruzados Hereford- Angus, British White e Belted Galloways, sendo grandes produtores de carne de alta maciez a pasto. Assim que voltamos para Auckland comecei a notar nos cardápios dos restaurantes que muitos deles indicavam no prato que a carne era de animais neozelandeses alimentados somente de pasto, demonstrando ser essa uma característica já procurada pelos turistas chineses e de todo mundo na terra da vela oceânica.
Bois cruzados Hereford-Angus, castrados aos 6 meses de idade e pesando acima de 480 kg totalmente a pasto
Bois e novilhas Belted Galloway (pretos com a faixa branca ) na Nova Zelândia. Boas matrizes e bois de carne macia
Cardápio de hamburgueria na Nova Zelândia onde a carne é descrita como Carne Neozelandesa de bois alimentados exclusivamente a pasto (Grass fed NZ beef)
Carne embalada na gôndola destacando que vem de animais criados exclusivamente a pasto
Dessa rápida experiência na Nova Zelândia, voei para a Austrália. Lá, durante três dias, estive em Cairns, melhor cidade ao Nordeste da Ilha, onde conheci as belezas da grande Barreira de Corais. Depois disso, me dirigi para Brisbaine, capital do estado de Queensland e 3ª maior cidade do pais, com 1,2 milhão de habitantes com o objetivo de conhecer um pouco sobre a importante pecuária do pais aborígene.
Assim que desembarquei em Brisbaine, meu grande amigo e veterinário experiente na área de reprodução, Luiz Phillipe Porto, morador da cidade há cinco anos, já me aguardava para iniciarmos nossa viagem a alguns de seus clientes. Um deles é um confinamento que engorda machos e gêmeas para os padrões do MSA (Meat Standart Austrália), órgão criado pelos produtores que classifica os animais vivos e chancela a carne das carcaças daqueles animais rastreados com um selo de qualidade.
Brisbaine, capital do estado de Queensland, com 1,2 milhão de habitantes
Dentre os padrões básicos antes do abate, se verifica o peso vivo, que não pode ser menor que 480 kg; idade, devendo ser abatido com até quatro dentes; ter bom acabamento no costado e na picanha e não ter mais do que 15 cm de cupim, que demonstra ser um animal taurinizado, com maior chance de carne macia. Como todos machos são castrados aos seis meses de idade, são normalmente engordados nos mesmos piquetes de novilhas.
Novilhas e bois castrados aos 6 meses com sangue taurino, na sua maioria sendo confinados no mesmo piquete. Todos atendem às exigências de classificação do MSA a fim de se obter uma premiação de ate N$ 100 por cabeça
Dentre as raças que vimos nesse confinamento me chamou a atenção a cor vermelha brilhante dos animais, demonstrando haver ali uma influência grande da raça Drougmaster (praticamente um Santa Gertrudes ½ sangue Shorthorn e ½ sangue Brahman), Hereford e Angus, sendo no mínimo 50% de sangue de raças taurinas. Os criadores recebem um prêmio para os animais classificados dentro do MSA de até NZ$ 100.00 por animal.
Era meu segundo dia rodando com o Luizão, onde desembarcaríamos no maior criatório de Ultrablack da Austrália. Assim que descemos do carro, por volta das 10h, sentimos o bafo quente dos quase 38 graus de calor. A fazenda possui 1500 matrizes em reprodução, sendo a grande maioria já registradas como Ultrablack, as quais foram formadas do cruzamento das melhores vacas Angus da Austrália com sêmen dos maiores touros Brangus dos USA.
Dessa forma, os 81,25% de sangue Angus e o restante de sangue Brahman conferem um pouco mais de rusticidade ao gado, adaptabilidade mais do que bem vinda para aquela região muito quente, com verão seco e com potencial para desenvolver pelo que o proteja do frio intenso do inverno. Vimos animais férteis e com longevidade, indicando que esse grau de sangue é uma boa opção para a região.
Vaca Ultrablack com 81% de sangue Angus a campo
Touro Ultrablack a campo
Por fim e muito proveitosamente, o meu amigo Luizão me levou para conhecer o único rebanho de Sahiwall da Austrália, raça zebuína originaria do Paquistão, sendo muito parecida com o Sindi e formadora da raça de leite composta Australiana (AMZ) quando cruzada com Holandês ou mesmo Jersey.
Criatório de Sahiwall no calor de 42 graus da Austrália
Bezerro cruzado Angus x Sahiwall muito adaptado
Essa experiência nesses dois países foi riquíssima para mim, por causa da minha paixão por raças, tendo sido engrandecedor rodar com Luizão esses dias.
A Austrália tem muito pouca chuva, não faz inseminação em larga escala e possui apenas 24 milhões de bovinos, mas é um grande exportador de carne de qualidade. Se o Brasil tivesse um plano pecuário e um plano? descente de premiação para carcaças de qualidade nos moldes australianos, tenho certeza que produziríamos uma quantidade de carne de qualidade 10 vezes maior que o pequeno País. Basta os criadores se unirem como eles fizeram para chegarmos lá.