A pecuária de corte é realmente o algoz da sustentabilidade?

De bruços na sua cama e apoiando o queixo com ambas as mãos, o pequenino Rafael, já aos 6 anos de idade, mesmo sem ainda ter a visão estratégica do xadrez, se atrevia a dar pitacos nas jogadas do irmão André Luiz, de 9 anos, que jogava contra mim. Já passava das 22h, e um movimento estudado pelos irmãos poderia significar a perda da rainha e provavelmente o primeiro passo para um cheque-mate sensacional no pai.

Utilizando o exemplo, costumo dizer aos amigos pecuaristas que é fundamental estudar muito bem os movimentos das peças na fazenda, tais como as relevantes tecnologias disponíveis no campo pecuário. O objetivo será alcançado com estratégia e raciocínio a longo prazo.

Por termos na pecuária um período de pelo menos três anos entre a inseminação de uma vaca e o abate de sua cria, deve-se mais do que nunca tratar cada decisão gerencial com a máxima seriedade possível. É imperativo levar em consideração custos x benefícios a longo prazo de cada proposta, no sentido de dar ainda mais sustentabilidade ao negócio da carne.

Sobre esse pano de fundo emerge a questão de crescimento sustentável, no qual os cidadãos metropolitanos, que não abrem mão de seus carros potentes e celulares de última geração, comungam a equivocada ideia dos igualmente neófitos meios de comunicação, de que fazemos carne acabando com o meio ambiente e escravizando trabalhadores, sendo, portanto, a pecuária a algoz da sustentabilidade do campo.

Desconsiderar a importância e a parceria exercida entre a pecuária de corte e o equilíbrio ecológico é tentar escamotear o tema, deixando para as abúlicas entidades não governamentais dominarem e patrocinarem pesquisas com viés muitas vezes político.

Viajando intermitentemente por esse Brasil maravilhoso, lembro-me da fazenda dos Bellodi, localizada na região pantaneira de Coxim (MS), quando estávamos eu e o amigo Lauriano analisando um lote de novilhas meio-sangue aos 25 meses, paridas. Vez por outra nos deparávamos com veados campeiros, capivaras, emas, tatus, tamanduás e, para nossa surpresa, até uma anta enorme, de uma beleza ímpar, e tamanho descomunal (essa tinha praticamente o comprimento e altura da frente de uma caminhonete). Pergunto aqui – Em qual sistema de produção agropecuário há essa diversidade e convivência harmônica entre os animais selvagens e o sistema produtivo?

Desde que as novas tecnologias chegaram a essas paragens tenho observado e incentivado o uso das mesmas pelos meus amigos produtores de carne de qualidade. Lançar mão de dispositivos zootécnicos e veterinários será compulsório para aqueles que pretendem permanecer na atividade pecuária.

O uso da IATF vem se tornando prática recorrente nos rebanhos comerciais e de seleção. A implantação de creep-feeding para alimentação precoce dos bezerros e futuros touros acelera o processo de desenvolvimento sexual e corpóreo. O confinamento sendo introduzido em regiões acima do paralelo 13, algo inimaginável pelos céticos no início desse milênio, e os inteligentes sistemas agrosilvopastoris que maximizam o uso da terra são práticas eternas a partir do presente momento, tornando a pecuária ao mesmo tempo competitiva e não sobrevivente de esmolas, atividade mantida na fazenda até então por falta de opção.

Perdi a rainha e aquele jogo para meus filhos. Propositalmente ou por distração? Pouco interessa. O mais importante é usarmos cada peça disponível inteligentemente, torcendo para a indústria ainda mais fortalecida e bem administrada abrir dia a dia novos mercados para usufruirmos esse novo patamar de preços da arroba que se desenha no horizonte, incrementando nossa produção de carne sem aumentos horizontais de terra.

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