Da soja de Parecis ao boi precoce de Juína

Após longos seis anos, achei que era hora de voltar ao Centro-Oeste do Mato Grosso, mais especificamente à cidade de Juína. Emancipada em 1979 do Município de Aripuana, Juína tem a pecuária como forte atividade. Acompanhado por Cedric Minelli e Ricardo Vilas Boas, dois dos mais experientes profissionais de venda de sêmen do MT, tínhamos um plano de paradas em importantes pecuaristas da região até chegarmos ao nosso destino.

Foi logo após o almoço que fizemos nossa primeira visita em Barra dos Bugres. A Fazenda RB, na qual paramos, é gerenciada pelo veterinário Fabio, profundo conhecedor da prática da reprodução bovina e da lida de campo. No local conhecemos rebanhos de diversas raças puras, como o Nelore pintado. Fabio nos confidenciou o quão custoso é fazer um animal destacado pela pintura, sendo ao mesmo tempo produtivo. Pudemos também admirar a precocidade do Sindi PO, bem como a pureza do Guzerá.

Comercialmente, a fazenda trabalha com matrizes Nelore e vem usando sêmen de Angus para fazer o cruzado F1, animal que será terminado a pasto castrado. Além dos cuidados pecuários, o que nos deixou fascinados foi o capricho com as casas da colônia de empregados, que guardam uma particularidade; não há distinção de moradia entre capatazes e campeiros. Todas as casas obedecem ao mesmo padrão de construção e conforto.

Após uma boa noite de sono e um café reforçado, partimos logo cedo para uma reunião com Ricardo, outro gerente de um grande grupo de fazendas, sediado em Tangará da Serra, cidade colocada entre as cinco maiores do estado. O administrador traçou um perfil do sistema de produção, o qual tem como base matrizes Nelore seleção PO e aneloradas comerciais, voltadas à produção de gado superprecoce (abatidos até os 18 meses na media) confinando a cabeceira da bezerrada F1 após desmame. Tais bezerros são suplementados com ração no creep-feeding a partir dos 60 dias, consumindo 100 kg de ração, em média. Os animais destinados à produção de superprecoce são escolhidos através do peso mínimo.

A seguir, viria a etapa da viagem que para mim significaria a epítome da agricultura moderna, quando percorremos mais de 150 km de estrada na famosa e impressionante Chapada dos Parecis. Para muitos estudiosos, uma das maiores extensões de terras contínuas agricultáveis do mundo, deixando-me extasiado com a qualidade do solo que outrora era habitado por índios, num cerrado alto de solo areno-argiloso. Passando sobre o lindo rio Juruena, não tardaria para desembarcarmos em Juína, no nosso destino final, a fim de participar do dia de campo da Fazenda Coroados, da família Basilio, e visitar o projeto do pecuarista Genes Rios. Na manhã seguinte, seguimos para Castanheiras, município que dista 30 km de Juína. Mesmo já preparados para encontrar o melhor da genética Senepol no Dia de Campo do Sr. Jorge e filhos, nossa expectativa foi superada em muito, encontrando uma apresentação de diversos lotes de cruzamento, entre Nelore e Angus, Wagyu e Angus, Wagyu x meio-sangue Angus (tricross), Senepol x Nelore e Senepol x meio-sangue Red, bem como o Wagyu PO, Senepol PO e Nelore PO. Um dia de campo digno de aprendizagem do cruzamento na prática.

Vale lembrar que hoje o projeto genético da Fazenda Coroados é tocado no campo por Douglas Basilio, um dos filhos pródigos, formado em veterinária. Enquanto isso, o irmão, Diogo, presidente do Sindicado Rural de Juína, lidera a classe pecuária da região. Após almoçarmos com outros 300 participantes do Dia de Campo, na Coroados, rumamos para a Fazenda Montanha, de Genes Rios, quase vizinha dos Basilio. Lá, observamos bezerros F1 Angus de excelente qualidade no pé de matrizes Nelore. Já as matrizes meio-sangue Angus são cobertas por Senepol, a fim de manter um pelo muito curto dos bezerros. O objetivo de Rios é abater animais inteiros F1 com no máximo 24 meses, e com acabamento mínimo através do confinamento próximo a cidade, onde planta o próprio milho para silagem. Foi uma viagem muito proveitosa nessa região ora valorizada pelas pedras preciosas e colonizada recentemente, sendo imperativa a construção de novos abatedouros na região para minimizar a dependência que os criadores têm dos preços impostos pelo único frigorífico local, cotações que ficam quase sempre aquém dos praticados no restante do estado.

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