O que você precisa mudar na sua fazenda para aumentar a produção de arrobas por hectare usando o cruzamento industrial? A tarefa não é para amadores, mas pode render bons frutos ao pecuarista. No dia 13 de fevereiro, o zootecnista Alexandre Zadra, falou sobre o assunto em entrevista ao Giro do Boi.
O zootecnista traçou uma linha do tempo do cruzamento industrial no Brasil e lembrou que do início dos anos 90 até o final daquela década, muitos projetos apostaram na cruza do Nelore com raças europeias de porte grande, como Simental, Limousin e Charolês, que, quando bem usadas, ajudavam a aumentar a produção de carne por área, mas deixava a desejar no acabamento na comparação com o Nelore pelo frame avantajado da carcaça, que demorava a iniciar a deposição de gordura.
Por isso, o ímpeto do cruzamento arrefeceu, mas voltou à tona em meados de 2007 com o Angus, uma raça de porte menor que combinou bem com o zebu brasileiro em termos de resistência com seu pelo curto, precocidade para a engorda e precocidade sexual, além de trazer a vantagem da qualidade de carne. Desde então, o cruzamento voltou à moda e variados modelos estão sendo utilizados pelos criadores.
“Os criadores sabem que o produto de cruzamento têm que ter comida, porque ele come. Se você der três anos de comida para um zebu, pegar aqueles três anos de comida e apertar toda aquela comida em dois anos para um produto de cruzamento, ele come tudo. Então todos os dois comem a mesma quantidade para ganhar o mesmo quilo de peso. As pesquisas já demonstraram isso, que todos os bois, machos, comem mais ou menos 8,5 a 9 kg de matéria seca para ganhar um quilo (de carcaça), se for inteiro, tanto o zebu quanto (o boi) de cruzamento. Mas o produto de cruzamento tem muita fome. Mas espere aí, que vantagem eu tenho? Simplesmente que você tem um ciclo mais rápido. Ao invés de matar com três anos, é como você pegar seu dinheiro, investir num banco, e aí é melhor você retornar aquele valor em dois do que em três anos”, comparou o zootecnista.
Mais do que a demanda por carne de qualidade, Zadra acredita que a valorização da terra aumentou a pressão por produtividade e fez o pecuarista buscar alternativas, como o cruzamento, cada vez mais viável por conta de avanços na nutrição. “O que nós sentimos é que o pecuarista percebeu a necessidade de tornar sua fazenda industrial, mais produtiva, uma empresa. E não dá tempo, não dá pra você ficar com boi no pasto por três anos”, opinou.
Zadra apontou que na busca por suprir esta necessidade, o Angus com seus 500 anos de seleção foi a raça que melhor se encaixou ao Nelore, por ser um britânico de pequeno porte, que engorda rápido, tem precocidade sexual e ainda produz carne de qualidade. Entretanto, Zadra reforçou a importância do Zebu para o sucesso do sistema. “Todos os europeus se deram bem no Brasil porque existe aqui o zebu […] Aqui no Brasil Centro e Norte tropical, sem o zebu, nenhuma raça (europeia) seria boa”, atestou.
Por isso mesmo, o especialista ressaltou a relevância que o trabalho de melhoramento das raças de base do cruzamento. “Você vê o que o Nelore como matriz fez no país, não é? […] A gente tem que deixar claro para o telespectador que o trabalho de seleção nas raças bases tem que ser muito forte e é o que vem ocorrendo. No Nelore, por exemplo, no Guzerá, é um trabalho forte de melhoramento, mas faz 30 anos. Quando a gente pega essa matriz e cruza com uma raça de 500 anos de seleção, a gente faz esse boi de dois anos que vai todo para o abate. Você imagine quando tiver 100 anos de seleção do zebu? Vai fazer um bezerro desmamado de 400 kg!”, projetou.
Mas Zadra ponderou que não é qualquer pecuarista, nem toda fazenda, que está preparada para dar este passo. “A decisão de fazer cruzamento industrial está basicamente no tocante à eficiência da fazenda”, analisou. Isto porque o produto do cruzamento tem o benefícios de engordar uma vez e meia mais rápido do que o zebuíno puro, mas também exige 1,5x mais alimento. Portanto, também deve estar bem programada a intensificação da gestão ao passo que o criador intensifica sua produção de arrobas por hectare.
“Antes de você pensar no prêmio (de protocolos que remuneram por qualidade de carne), você tem que pensar na eficiência, que é o custo operacional. Se você tem um boi que vai embora com três anos, ele carrega três vezes o custo de uma reforma de cerca anual, ele carrega três vezes nas costas o salário anual. Mas se ele vai embora com dois anos, ele carrega duas vezes só, ele é ⅔ do custo operacional fixo da fazenda. Por isso o cruzamento voltou. Ou você faz uma pecuária eficiente ou você arrenda para lavoura ou sai do negócio, não tem jeito mais! A terra ficou muito cara”, admitiu.
Ainda em sua participação no programa, Zadra falou sobre a importância dos protocolos que incentivam a produção de carne de qualidade, comentou a evolução dos nichos de mercado para consumidores de carne bovina e também trouxe detalhes de seu recém-lançado livro de crônicas, intitulado “Caindo na braquiária”.
A publicação, que reúne que reúne crônicas do autor publicadas na Revista AG, custa R$ 20 e toda a renda da comercialização está sendo revertida à instituição beneficente “Nossa Escola – Educação Inclusiva”, que atende crianças e jovens especiais na Vila Prudente, em São Paulo-SP. A intenção de compra do livro pode ser comunicada via e-mail em contato direto com Alexandre Zadra pelo zadra@genexbrasil.com.br.
A entrevista completa pode ser vista clicando na imagem abaixo: