Já era tardezinha e os últimos raios de sol do inverno iluminavam as pranchas de Itauba da curralama do Valdir. A cena sintetizava a boa energia que ali vivenciávamos. Dentre tantos assuntos por nós discutidos naquela reunião no tablado do curral, um que gerou boa prosa foi a questão da perda embrionária entre o diagnóstico de gestação e a parição, o conhecido “fundo de maternidade”.
É unanimidade entre os produtores de bezerro que a perda de prenheses é grande desde o momento do diagnostico até a parição. O próprio Valdir após pegar seu caderno de anotações do curral nos mostra que perdera na última estação de nascimento 7% das prenheses que haviam confirmado ao final da estação de monta.
Como de costume, fui inquirido pelo incauto pecuarista sobre os motivos que ocasionavam tal perda e o que precisava fazer para definitivamente obliterar tal prejuízo de sua fazenda.
“Valdir, tenho estudado um pouco sobre esse assunto que vem assustando os clientes que outrora não faziam diagnostico de gestação (DG), portanto, não tinham consciência do seu fundo de maternidade e que agora com a IATF realizam o DG, tendo ciência das perdas até o nascimento”, afirmei ao produtor.
Alguns dos mais renomados pesquisadores na área de reprodução, como o Professor Zequinha, de Botucatu (SP), estudaram a fundo com experimentos em fazendas diversas, chegando à conclusão que os níveis aceitáveis de fundo de maternidade devem ser de no máximo 6%, podendo essa perda ser causada por diversos fatores, tais como doenças infecciosas como IBR, BVD e leptospirose, devendo ser vacinadas principalmente as novilhas que não apresentam imunidade às mesmas, como as multíparas, não deixando de ser importante a vacinação nas matrizes adultas, já que trabalhos experimentais que detectaram o aumento das taxas de prenhez nas vacas quando vacinadas em relação as não vacinadas para doenças reprodutivas.
Outra pesquisa (JAINUDEN, HAFEZ, 2004) concluiu que a maioria das perdas embrionárias precoces ocorre entre o 7º e o 16º dia de gestação, podendo ser causadas tanto por questões fisiológicas ligadas à reprodução, fatores ligados à incompatibilidade genética e até ao conforto térmico, onde animais menos adaptados a altas temperaturas tem maior dificuldade em dissipar calor para manter a homeotermia. O estresse térmico e os efeitos de perda embrionária precoce são corriqueiros em animais mais “europeuzados”, por apresentar apresentarem um metabolismo mais acelerado, com consequente aumento na produção de calor endógeno; isso faz com que o animal produza mais calor. O estresse térmico no 7º e 8º dia de gestação diminui a viabilidade embrionária por interferir em seu desenvolvimento e por alterar o ambiente uterino, ocasionando a absorção embrionária.
“Zadra, se eu deixar meus touros de repasse junto das matrizes até pouco tempo antes da parição não acabo com esse problema? Dessa forma, se a vaca abortar, no próximo cio o touro vai enxertá-la ou não? Pelo que me falou, a vaca que aborta deve ser sumariamente descartada do rebanho? Não deveria dar chance a ela? ”, me questionou Valdir, esperando uma resposta única de mim.
Nesse momento me veio à cabeça uma frase dita por Luis Fernando Verissimo: “Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas”, ou seja, qualquer resposta dada por mim ao Valdir nesse momento poderia não ser a melhor solução, pois em cada momento de decisão ele dependerá da realidade de mercado, necessidade de reposição ou de fazer caixa.
Eu poderia responder: “ Valdir, deixe os touros nas vacas até quase parirem, pois como sabemos pelos trabalhos, elas podem ter abortado por conta de estresse térmico ou outro estresse, podendo ser férteis”.
Ou então: “Não é interessante manter os touros nas vacas por que se elas emprenharem novamente parirão fora da estação”.
E mesmo: “Deixe os touros com elas, pois pelo menos terá essas vacas que serão descartadas prenhes para poder vender a outros produtores que não têm estação de monta ainda”.
Como podem ver, temos muitas dúvidas e cabe aos produtores achar sua realidade, tomando sua melhor decisão, mas sempre vacinando suas novilhas adaptadas antes da estação de monta.