Havíamos chegado há um tempinho na fazenda do Renato, propriedade localizada próximo ao município de Coxim, no Mato Grosso do Sul, que trabalha com o ciclo completo na pecuária de corte. Nosso intento nessa visita era ver bezerros e bois oriundos da genética Angus e Brangus americana por nós indicada, além de conhecer o sistema de confinamento usando somente grão inteiro de milho juntamente a um núcleo peletizado.
Enquanto nos deliciávamos com doces jabuticabas colhidas nas frondosas árvores do pomar, avistamos no horizonte o avião do Renato, pilotado por ele mesmo, fazendo a aproximação, culminando num pouso suave a fim de nos encontrar. Sempre muito educado, Renato não esconde o prazer que tem de nos apresentar sua genética tanto na forma de bezerros quanto como bois no confinamento.
O rebanho dessa fazenda é constituído por um número próximo a 5.000 matrizes, sendo uma pequena parte de vacas Brahmanel (Brahman x Nelore) e sua grande maioria de ventres cruzadas (filhas de Braford x ½ Angus, filhas de Bonsmara x ½ Angus). As raças escolhidas para uso nessas matrizes foram o Angus, cujo sêmen fora utilizado nas fêmeas Brahmanel e o Brangus, onde o sêmen vem sendo usado nas matrizes cruzadas.
Usando sêmen de Angus e Brangus, a fazenda produz filhos muito padronizados em pelagem e conformação, com influência de sangue Angus, podendo assim ser premiados no programa de carne da raça, com bonificações que chegam a 4% no macho Angus e preço de macho pago pelas fêmeas jovens cruzadas Angus.
Tão logo chegamos no curral, nos deparamos uma bezerrada preta de 40 dias de idade média, sendo brincadas para futura identificação, foi missão difícil saber quem era filho de Angus ou Brangus, pois a genética Angus e Brangus americana tem uma consistência muito grande, transmitindo muita estrutura e musculatura a progênie. Permanecemos um bom tempo no curral tentando descobrir quem era filho de qual raça, nos divertindo com essa brincadeira prazerosa.
Depois dessa aula de produção, rumamos diretamente ao confinamento para conhecer os irmãos desses bezerros nascidos um ano antes, não sem antes passar pelo galpão de armazenamento do grão de milho e do núcleo, chamando nossa atenção pela extrema simplicidade das estruturas, que consistem de uma baia para armazenamento do milho grão, um chupim e um vagão forrageiro misturador com balança. E para nossa sorte, naquele momento seu funcionário (tem apenas 1 funcionário para tratar dos 2.000 bois) trazia o trator com o vagão para fazer um dos 4 tratos diários, nos deixando entusiasmados com a agilidade no preparo do trato.
Primeiramente, digitou no sistema eletrônico do vagão a quantidade de milho que queria que fosse pesado, logo após ligou o chupim, onde com uma enxada grande empurrava o milho que ora era sugado para o vagão. Assim que o milho chegara na quantidade correta, o vagão deu um sinal de aviso, onde logo após o funcionário jogou o nucleo no vagão completando a carga correta para aquele trato.
Ficamos maravilhados em saber que já há a possibilidade de pequenos criadores confinarem seus animais sem a necessidade de qualquer forragem e mais que isso, sem precisarem construir fabricas de ração.
Já no confinamento tivemos outra aula de manejo desse sistema de engorda, onde encontramos naquele momento baias com bezerros desmamados, os quais receberam ração no creep feeding desde os 40 dias, até bois que se encontravam no confinamento por mais de 170 dias pesando mais de 550 kg.
Logo nos chamou a atenção a quantidade de grão inteiro de milho observada nas fezes, onde o Renato nos alertou que na fase de adaptação isso é normal. E realmente pudemos confirmar o que foi dito por ele já no próximo piquete de animais mais velhos com 60 dias de cocho. Suas fezes já eram pastosas sem milho inteiro que pudesse ser observado.
Já na última baia dos animais confinados por mais de 170 dias, pudemos observar aqueles jovens bois de até 15 meses já terminados, prontos para o abate, onde Renato nos confirmou que o último lote abatido nesse padrão de peso e acabamento rendeu 58% de carcaça, recebendo na sua grande maioria prêmio na arroba.
Precisamos achar alternativas como essa para o produtor com pouca estrutura a fim de viabilizar também a pecuária de pequeno porte.