Maciez a caminho no oeste do Mato Grosso

Do alto de seus 1,90 m de altura, branco, o simpático e tímido garçom do Ponto Chic nos presenteava quase todas as quintas-feiras com um lanche especial feito de contra filé ao ponto, queijo mussarela da melhor qualidade, tomate cortado bem fino, num pão francês delicioso. Isso, logicamente regrado a chope na temperatura certa. Esse era o pano de fundo para iniciarmos a longa noite de bate papo entre os alunos do curso de Zootecnia da USP em Pirassununga, quando já se sabia de antemão que a principal discussão giraria em torno de gado de corte e de nossos futuros como profissionais da área.

Carregado de curiosidade e ansioso para pisar em solo pecuário, cheguei ao oeste do Mato Grosso para visitas importantes naquela semana, quando em companhia do Dr. Josmar Miotto, consultor em pecuária da região, visitamos o interessante projeto agrosilvopastoril, administrado por Dr. Gilberto Muncinato, onde plantam em linhas de 20 metros mogno africano e teca, fazendo concomitantemente nessas áreas de floresta, agricultura rotacionada e feno de capim até que as arvores tenham 24 meses de idade, servindo então como área de pastagens rotacionadas para recria de machos F1 precoces. Contudo, o que mais me chamou a atenção foi o sistema de cria desenvolvido nas áreas de arrendamento, onde Gilberto direciona para esses locais, novilhas virgens Nelore, adquiridas a ponto de enxerto para serem inseminadas através da IATF (Inseminação Artificial por Tempo Fixo) com sêmen de Angus, sendo após 2 ressincronizações repassadas com touros Caracu. Essas novilhas prenhes permanecem no arrendamento por 12 meses, trazidas então para o confinamento, paridas com bezerros ao pé de cerca de 3 meses e colocadas no cocho com sua cria, sendo então abatidas com peso médio de 14 arrobas. Os machos F1 são recriados no sistema de rotação de pastagens (agropastorl) que recebem adubação de alto nível, sendo engordados em média de 8 machos de 250 kg/hectare durante 7 meses  e terminados no confinamento. As fêmeas F1 são recriadas no arrendamento até a parição. Como o próprio Gilberto diz: “com este sistema, o ganho das novilhas paga o arrendamento delas e ainda me sobra os bezerros altamente produtivos que necessito na engorda”.

Já na fazenda, gerenciada por Adilson Castanho, na região de Cáceres (MT), fui acompanhado pelo Dr. Mario Vilella, veterinário especialista em reprodução. Na ocasião pude receber informações preciosas desse projeto que após análises econômicas de apuradas definiu como sendo a medida mais lucrativa para a fazenda a venda de bezerros de 8 a 10 meses de idade, por já se praticar nessa parte do Mato Grosso a venda de bezerros de corte por kg, significando as vezes um valor acima de R$ 1.000,00 por animal jovem, o que por si só representa um lucro de mais de 100% para a fazenda, que também reforça seu caixa na venda de matrizes adultas vazias. No momento Adilson Castanho está fazendo um serie de investimentos na melhoria das pastagens através de adubação estratégica, para aumentar a lotação de matrizes.

Outro projeto visitado que preciso citar é aquele encabeçado por Marcio Souza em Porto Esperidião (MT), no qual fazem o ciclo completo mantendo as matrizes F1 e tricross Senepol e Braford como reprodutoras, levando os machos cruzados castrados de 17 a 18 arrobas.

Há algum tempo que nas minhas andanças não me deparava com projetos que vem mantendo a excepcional fêmea cruzada como matriz, onde se deve destacar que essa é a forma para os projetos de carne de qualidade de todo Brasil, pois com ela poderemos utilizar uma terceira raça taurina adaptada ou um Bimestiço para uma recria a pasto ou mesmo um europeu quando procuramos o superprecoce. Lembro que esse último deve ser desmamado e colocado diretamente no cocho para se obter o rendimento máximo de ganho.

Serão quase 3 milhões de doses de Angus vendidas para cruzamento industrial nessa estação, quando teremos em 2014 a desmama de pelo menos meio milhão dessas bezerras e com o uso de parte delas como matizes, o oeste do MT pode se tornar um forte produtor de carne macia para o Brasil, pois lá se localizam plantas frigoríficas importantes prontas para abater esse gado de qualidade.

Voltei dessa viagem lembrando daquele suculento contra filé que fazia parte dos famosos lanches do Ponto Chic, com especial maciez, característica principal procurada numa carne de qualidade e com a certeza que teremos num futuro próximo ainda mais qualidade com o uso correto do cruzamento.

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