Menos hora extra e melhor qualidade do rebanho

Tão logo imobilizávamos a vaca no brete do Projetão através da pescoceira e da guilhotina no vazio, um dos peões do antigo CIZIP (FZEA – Campus de Pirassununga) já amarrava a cabeça do animal, expondo seu pescoço para que pudéssemos coletar o sangue analisado e estudado pelo Dr. Edi Hoffmann Madureira.

Hoje, professor da USP e um dos maiores cientistas da área de reprodução, Dr. Edi iniciava nos idos de 1987 seu mestrado na área, quando pesquisava a correlação existente entre a fisiologia e a anatomia das matrizes do rebanho, através da apalpação dos ovários e da medição do nível de progesterona e estrógeno nas diversas fases do ciclo estral. Esse foi um dos importantes trabalhos de pesquisa que, juntamente a outros não menos importantes, nortearam o entendimento da acendrada fisiologia reprodutiva das raças tropicais.

Em meados de 1988, eu já definira o gado de corte como a área da Zootecnia que me especializaria, quando após um curso de I.A. (Inseminação artificial) na Lagoa da Serra, fui convidado pelos professores Dr. Paulo Pinto e Euclides Martins, zootecnistas responsáveis pelo Projetão, para fazer a inseminação do rebanho. Ali, aprendi o manejo de aparte das matrizes, inseminando mesmo com pouca experiência. A Inseminação Artificial tornou-se para mim o propulsor profissional que eu necessitava, me remetendo a fazendas de amigos da Zootecnia para implantar durante as férias a técnica em seus rebanhos. Alguns manejos reprodutivos eram experimentados para se minimizar o tempo de puerpério, tais como a mamada controlada, na qual os bezerros das matrizes em reprodução ficavam apartados das mães, sendo trazidos para a mamada somente uma vez por dia, até que a mãe seja inseminada. Outro manejo muito utilizado era (e ainda é) o Shung, cuja cria é separada da mãe por 36 a 48 horas, sendo ainda aplicada a massagem uterina. Todo  esse manejo exigia uma ótima tropa para ser revezada a cada 15 dias com o objetivo de diminuir desgaste dos animais. Isso tudo sem contar com a necessidade do pagamento de hora extra aos inseminadores, que trabalhavam sem folga nos finais de semana durante a estação de monta, gerando estranhamente uma diminuição das vacas inseminadas nestes dias e nos feriados de final de ano.

Já na década de 1990, os criadores gaúchos utilizavam prostaglandinas no rebanho, realizando, assim, a sincronização de cio das matrizes com corpo lúteo desenvolvido, o que garantia um número maior de vacas ou novilhas inseminadas no início da estação.

Em meados de 2000, quando chegaram ao mercado os implantes hormonais auriculares, que imediatamente caíram no gosto dos veterinários que trabalhavam com TE ( transferência de embrião). Eles foram utilizados na sincronização das receptoras. Mesmo tendo um preço nada comercial, seu uso na TE de alto valor agregado se tornava viável. Passadas duas décadas desde os primeiros estudos da fisiologia reprodutiva nos trópicos, desembarca no Brasil os primeiros implantes intravaginais e protocolos utilizando ECG, que tão logo seriam usados comercialmente. A técnica fora batizada de IATF (inseminação artificial por tempo fixo). O Brasil tornou-se um dos países que mais aderiu à IATF, adquirindo conhecimento profundo dos detalhes que influenciam nos resultados da mesma, tais como manejo reprodutivo e escore corporal do rebanho, época de estação de monta, categoria das matrizes, bem como a diferença entre sêmen na IATF. Rebanhos que já realizam a IATF por muitos anos já procuram fazer a ressincronização, incrementando a produção através da IATF de pouco mais de 50% de animais nascidos de IA para os possíveis 75 a 80% de bezerros de sêmen de touros provados.

Surge nesse momento uma indagação importante de alguns plantéis que fazem seleção e justificam a não adesão à técnica da IATF. ‘Quando fazemos seleção para fertilidade, descartamos as matrizes vazias ao final da estação de monta. Com o uso da IATF, não mascaramos a infertilidade ou subfecundidade das matrizes?”. A meu ver, essa pergunta vem a calhar quando pensamos em rebanhos avozeiros, pois precisamos realmente garimpar os indivíduos naturalmente melhores e disponibilizar seus genes superiores pelo rebanho nacional através da IA , no entanto, quando visamos a pecuária eficiente e lucrativa devemos lançar mão de todas ferramentas tecnológicas disponíveis, sendo a IATF uma das mais profícuas armas para o incremento da produção de animais F1( animais gerados do cruzamento de duas raças puras), reconhecidamente muito eficientes para a pecuária moderna.

Não podemos deixar de citar também a contribuição da IATF para o aumento dos preços médios de touros avaliados para o repasse, visto que os criadores comerciais vem investindo na aquisição desses reprodutores superiores, buscam a cada dia diminuir a diferença existente entre o produto F1 da IATF e o bezerro nascido de monta natural.

E, por fim, surge a TETF (transferência de embrião por tempo fixo), que vem preconizando a implantação em nível comercial de embriões F1, produtos de matrizes e touros provadíssimos, no lugar de se inseminar nossas matrizes comuns com sêmen de touros provados. A TETF, na minha ótica, vem a encontro no sentido de se gerar um rebanho F1 ad aeternum, ou seja ao implantarmos um embrião F1 numa matriz F1 logramos os efeitos da heterose máxima no bezerro e na matriz, produzindo com a máxima eficiência possível nos trópicos. É a IATF cooperando na busca da pecuária eficiente e sustentável.

 

 

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