18 de janeiro – O dia amanheceu chuvoso, o que nos deixa felizes por vermos o pasto crescer, a lavoura de milho embonecar e todas as amigas fortes com muito leite para amamentar bem os bezerros, os quais estão grandinhos e têm um apetite voraz, não largando o peito para nada. Esses pequenos “parasitas” (apenas brincadeira) só param de mamar para reclamar da chuvarada; certamente esses amados bezerros entenderão no futuro que cair água do céu faz parte de um ciclo natural do clima aqui do Centro Oeste.
10 de fevereiro – Que sol magnifico fez hoje. Pudemos esquentar nossas entranhas e ver as colhedeiras de forragem começarem o trabalho de ensilagem da roça de milho, que deve produzir muito esse ano. Meu pequeno filho cresceu bastante e começa a me dar um pouco de sossego, pastando em boa parte do tempo as pontas desse Mombaça delicioso. Já não era sem tempo, pois meus peitos não enchem como há alguns meses atrás. Outra coisa, nos pastos de toda fazenda está sendo jogada ureia; dizem que faz bem para o capim, aumentando muito sua produção.
25 de abril – O veterinário chegou cedinho e já estávamos no curral para que nos apalpasse. As novilhas que não estão acostumadas ficaram bravas toda vida com todo esse manejo, achando que iriam machucá-las. Mas no decorrer do dia viram que com o novo manejo racional adotado pelos peões para nos conduzir, tudo foi tranquilo, liberando o grupo delas logo após nosso lote bem mais experiente. Ah, inclusive, confirmaram que estou prenhe desde a Inseminação ocorrida em novembro. Aliás, já sabia disso há muito tempo, pois meu leite diminuiu e engordei bem nessas últimas semanas. Algumas colegas foram embarcadas num caminhão grande, e não faço ideia para onde foram levadas. As más línguas dizem que por estarem vazias foram engordadas para serem abatidas. Não acredito!
15 de maio – Voltamos hoje ao curral para a vacinação de aftosa. Nunca tive essa doença, ou melhor, na verdade, nunca vimos alguém do grupo com ela; dizem que a boca fica toda machucada e não se consegue comer direito. Fomos vacinadas e vermifugadas para nos deixar sem vermes a fim de enfrentarmos melhor a época da seca.
Ao final de tudo estávamos sem nossos bezerros, que beiram seus 200 kg e se viram sozinhos. Foi uma choradeira daquelas. Fiquei um pouco triste, mas faz parte do jogo, pois estou com prenhez avançada e não aguentava mais amamentar, precisando secar para guardar energias para a próxima cria que se aproxima. Nossos filhos que nasceram no ano passado já são uns marmanjos; estão com 18 meses e foram tirados do pasto e levados para o confinamento. Isso que é vida! Não precisam ficar andando atrás de comida; tem um garçom que traz num vagão forrageiro a comida prontinha. Vida boa a deles!
17 de junho – Começaram a picar a cana, onde agradecemos muito, pois passar a seca somente com pasto seco (chamam de bucha, pois aquilo parece uma de tão seca) e um sal proteinado é difícil. Estou com a barriga grande e o bezerro lá dentro cresce muito agora e preciso comer bem, portanto, essa cana vem a calhar.
Vi meu filho que foi desmamado há pouco mais de um mês; ele nem se deu conta de mim, virou um bonito bezerro.
20 de agosto – Pari meu 5º bezerro, pretinho e com um pouco de pelo como de costume; dizem que é de uma raça que todos gostam. Depois de meu bezerro levantar e mamar meu colostro que já incomodava, pois meu úbere estava muito cheio, fomos conduzidos calmamente ao curral, onde meu bezerro teve seu umbigo curado, sendo também vermifugado. As novilhas que também estão parindo estranham um bocado por serem brancas e suas crias nascerem pretas, mas com muito amor e boas lambidas elas se tornam muito amáveis, sendo ótimas mães ao final.
22 de outubro – Até que enfim o capim começou a crescer rápido, pois minha cria está com dois meses e mama o dia todo sem parar. Estou ficando fraca, precisando de capim de qualidade para suprir minhas necessidades. Se iniciou o processo de Inseminação, onde já estou com um implante hormonal dentro de mim. Em oito dias voltarei ao curral para a retirada desse dispositivo intravaginal que incomoda bastante, para receber outra injeção de hormônios e, por fim, ser inseminada. Os marmanjos do confinamento ficaram gigantes, nem parecem aqueles que entraram em maio. Foram também vendidos e embarcados não sei para onde.
17 de novembro – A turma mais nova foi levada ao curral para ser vacinada e vermifugada e nossa turma de vacas também foi vermifugada. Na hora a picada dói um pouco, mas sei de sua importância para poder aproveitar melhor essa belezura de pastagens.
24 de dezembro – Enfim, os touros se juntaram ao nosso grupo para que possam confirmar nossas prenhezes; são namoradores esses caras. O que não gosto é de vê-los brigar por nós; faz parte da época de acasalamento. Como já sei que emprenhei com a Inseminação, eles não me atazanarão nos próximos meses.
Com esse diário quero expressar a gratidão que tenho pelas vacas e pela pecuária de um modo geral, pois sem ela minha vida seria menos alegre.