Para onde correr?

Quando Vaccari nos convidou para participarmos do “Acrimat em ação” em 2017, viajando num total de 7.000 km por 31 cidades do Mato Grosso acompanhando a equipe dessa forte entidade que congrega e representa os sindicatos rurais do estado, senti que seria uma ótima oportunidade que me surgia para conhecer rincões nunca visitados, bem como, teria a chance de conhecer a fundo a pecuária regional desse gigante que é o Mato Grosso.

Assim que chegávamos em cada cidade com a comitiva da Acrimat, percebíamos que os sindicatos já haviam feito seu papel junto aos pecuaristas, conclamando-os a participar da reunião, na qual Mariane Crespolini, doutoranda em economia pelo CEPEA, ministrava a palestra “Desafios e oportunidades para a pecuária de corte”, discorrendo com muita propriedade sobre todos aspectos que influenciam os preços da cadeia bovina de corte e sua sistemática comercial.

Nas andanças com esse seleto grupo de profissionais as discussões sobre as demandas da classe pecuária no estado se faziam sempre presente na pauta do dia e algumas delas me deixaram perplexos.

Como não podia deixar de ser, a maior parte das reclamações vem da alta concentração de abate na mão de três frigoríficos, sendo abatido por eles 48% do gado do estado, balizando os preços pagos ao produtor para as demais pequenas plantas. Isso não seria problema, caso os produtores pudessem negociar seu gado com frigoríficos de outros estados. Operação difícil e custosa, pois Chico Manzi, diretor técnico da Acrimat, me relatou que o ICMS do estado para um pecuarista mandar gado para fora é (por enquanto) de 7% sobre uma pauta (acreditem se quiser) de R$ 1390,00 para bezerros e R$ 2415,00 para bois. Digo por enquanto, pois o governador pretende aumentar o ICMS para 12%, mas com as reivindicações da Acrimat, a nova taxa será de “apenas” 9% aplicada já a partir de julho.

Nesse caso, uma solução para os pecuaristas que fazem bois de qualidade, seria inseminar suas vacas com Angus, registrando os produtos como animais ½ sangue Aberdeen Angus, podendo ai vender esses animais para todo território nacional sem pagar ICMS. Cada registro de um animal ½ sangue fica em R$ 5,00 para bezerros no programa “Terneiro Angus” e R$ 31,00 para animais adultos.

Outro assunto muito debatido com a turma da Acrimat e os pecuaristas das cidades visitadas foram as péssimas condições de algumas importantes estradas do estado, as quais deveriam estar muito bem transitáveis, pois há uma verba própria para esse fim, o FETHAB (Fundo estadual de transporte e habitação). Para cada boi abatido, o governo recolhe 2,52% para esse fundo. Em conversa com Chico, o mesmo me afirmou que a cada R$ 100,00 de impostos recolhidos pelo governo do estado, sobram R$ 0,48 para investimentos de acordo com afirmações do governador. A mobilização é grande para que a verba do FETHAB seja usada para o devido fim.

Rendimento de carcaça foi também tema corriqueiro nas discussões acaloradas entre os pecuaristas e alguns compradores que sempre se faziam presente nos eventos, onde a ACRIMAT também vem trabalhando nessa frente a fim de minimizar o embate entre a classe pecuária e os abatedouros através da instalação de balanças do produtor com sistema independente de pesagem. Nesse caso, todos que já manipularam carne de animal recém abatido, sabe que existe a quebra aproximada de 2% na carcaça nas primeiras 24 horas de resfriamento por conta da perda de agua, vem aí a pergunta que ouvi de um dono de um grande frigorifico – “Pode colocar a balança do produtor onde quiser no meu frigorifico, eu só quero saber quem vai pagar meus 2% de quebra”. Essa é a cabeça do dono de frigorifico.

Além do convívio com esse time de craques da ACRIMAT, os aprendizados com a Mariane esses dias foram engrandecedores, obtendo informações importantes que me deixa otimista para com o futuro da pecuária de corte. Por exemplo, que o assalariado que ganha até R$ 3.000,00 aumenta a compra de carne numa proporção altíssima cada vez que tem aumento de salário. Dessa forma, podemos esperar que o consumo aumente com a retomada da economia e geração de novos empregos, melhorando as margens dos frigoríficos e consequentemente a melhora nos preços da arroba.

Somos e sempre seremos os maiores exportadores de carne do mundo, pois vendemos carne barata e o mundo precisa de nós. Eles não têm para onde correr!

 

 

 

 

 

 

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