Pressão nos touros para repor matrizes de qualidade

Por que a tourada dos selecionadores participantes de programas de melhoramento vem ficando cada dia mais cara, Zadra? E novilhas boas para reposição, então? Diante dessa  interpelação, ativei minha sofrível memória  que acabou me remetendo ao que chamo de “anos de ouro do Nelore”, ou seja, entre 2000 e 2005. Foi nesse quinquênio que a raça Nelore explodiu no Brasil. Foi também neste tempo que a Associação de Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), comandada por Carlos Viacava, tendo como executivo Eduardo Pedroso, desenvolveu, com o supermercado Andorinha, o programa de abate e premiação de carcaças que advinham de animais Nelore. Criava-se aí a marca de carne Nelore Natural. Esse vitorioso programa da ACNB levou a raça Nelore às alturas, a qual  no final da cadeia consumidora trouxe para a base da pirâmide a necessidade do uso de touros Nelore a fim de se produzir os tão valorizados bezerros brancos. Tal programa levou centenas de criadores a investirem no “Nelore Show”, com animais de pista explorados no máximo do potencial produtivo, sendo vendidos por preços exorbitantes nos principais leilões da raça. O Nelore Rush, como foi apelidado tal movimento em prol da raça, não só incentivou a entrada de novatos no Nelore Pista como também fez surgir uma classe de aproveitadores que já inseminavam suas vacas Nelore comerciais a se tornarem vendedores de “touros”. Esses criadores que nunca participaram de qualquer programa de melhoramento da raça vendiam seus melhores garrotes filhos de inseminação como touros Nelore.

Diante disto os selecionadores de Nelore participantes de sérios programas de melhoramento, viram-se apequenados pelos vendedores de touros de boiada, tendo que se submeter a um achatamento substancial dos preços de seus touros criteriosamente avaliados. Foi uma época muito difícil para todos. Exceto alguns centros de excelência de produção, o que se via era muitos animais ruins com preços incrivelmente baixos em relação a insumos como arame, sementes, sal mineral, ração, etc. Foi à chamada “Pecuária dos 40”, em vista do preço da arroba ficar em R$ 40. Realmente, quem tinha terra de pecuária sentia-se como um miserável sobrevivente com cercas caindo, currais velhos, pastagens degradadas e cochos quebrados.

O grande salto da pecuária ocorreu nos idos de 2005-2007, em razão do aumento da participação do Brasil na exportação de carne mundial, dentre inúmeros outros fatores que influenciaram para que a arroba alcançasse melhores patamares de preço. A partir daí, tudo começou a mudar positivamente, com novas tecnologias adotadas, sendo a Inseminação Artificial por Tempo Fixo (IATF) uma das primeiras delas. A IATF começou a ser trabalhada comercialmente, dando ampla possibilidade do uso da inseminação por pecuaristas que jamais poderiam imaginar que pudessem um dia escolher os melhores touros do mercado e utilizá-los na fazenda. Com essa revolucionaria técnica de reprodução, pode-se iniciar a explicação da maior valorização dos touros avaliados nos principais leilões da raça, pois, com o aumento da IATF, que vem sendo aplicada com o uso de sêmen de Angus, houve uma diminuição da procura por touros para monta, mesmo sendo preconizado pelos técnicos o uso do mesmo número de touros para monta natural ou para o repasse da IATF. Outro motivo para o aumento dos preços dos touros de programas de melhoramento é o real incremento de peso nos filhos desses em relação a filhos de “touros de boiada”, fenômeno já percebido pela pecuária moderna.

Dessa forma, podemos afirmar que à tendência de preços do touro Nelore avaliado com altos índices genéticos, se manterá em ascensão, pois aqueles que transmitem ótimas características maternas são e deverão ser os pais da grande reposição de matrizes em nível nacional, mesmo sabendo que muitos técnicos são favoráveis a inseminação da cabeceira das matrizes com genética de touros provados para manter essa reposição de qualidade. Quanto ao fato das novilhas de reposição estarem com preços caros, devemos lembrar que, a cada dia que passa, o criador está mais exigente na compra de animais, preferindo pagar um pouco mais caro por qualidade. Dessa forma, certamente, os preços para reposição de matrizes acompanharão a valorização dos touros de qualidade.

“Outro motivo para o aumento dos preços dos touros de programas de melhoramento é o real incremento de peso nos filhos desses em relação a filhos de “touros de boiada”, já percebido pela pecuária moderna”.

Crônica publicada em 26 de agosto de 2014.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *