Pontualmente às 19h30 iniciei minha palestra em Porto Velho, capital de Rondônia. O tema era “Os aspectos genéticos da pecuária de corte”. No auditório cerca de 30 pecuaristas que reúnem em suas propriedades algo em torno de 100 mil cabeças. Eles estavam ávidos por informações sobre o possível impacto do uso da genética de qualidade no caixa da fazenda, assunto no qual ousei mergulhar em decorrência do momento dourado que vive a pecuária no tocante a preço por arroba.
Comecei a apresentação dizendo que temos duas maneiras de realizar melhoramento genético animal. A primeira é por meio da seleção de uma raça, na qual escolhemos as características importantes que devem ser aprimoradas, e através da medição das mesmas, descartamos os piores animais, reproduzindo os melhores, obtendo assim um avanço genético no decorrer das gerações. A segunda alternativa de obter melhoramento fica por conta da introdução de uma outra raça através do cruzamento, em que se busca aliar os benefícios de cada uma, a fim de se gerar um produto cruzado que dê resultados acima da média dos pais.
Após essa breve explanação abordei as seguintes questões, que creio, deveriam estar na intenção dos presentes: “ Qual a forma mais barata de se acelerar a produção de carne por hectare em uma fazenda? Reforma e divisão de pastos? Suplementação no cocho? Um silêncio sepulcral fez-se presente, e sem aguardar pronunciamento, eu mesmo respondi: “Faça cruzamento, e um jantar gratuito chamado heterose será servido, com um aumento do giro de capital da fazenda”.
Foi como jogar gasolina em fogueira, com muito burburinho na plateia acostumada a criar Nelore, raça que considero a mais importante da pecuária nacional, que quando usada no cruzamento com uma raça europeia produz animais com o peso ideal de abate dez meses antes que os animais zebuínos. Tão logo fiz a afirmação, fui novamente questionado por tradicional criador, que levantava a dúvida do maior consumo alimentar do meio-sangue em relação ao Nelore, sendo teoricamente um animal que “ganha peso, mas come muito”. A pergunta já fora respondida pelos maiores pesquisadores da área, que concluíram que após a desmama todo bovino consome em torno de 8,5 kg de matéria seca (MS) para ganhar 1 kg de Peso Vivo, ao passo que os cruzados consomem mais que os Nelores, mas apresentam ganho em peso correspondente, como demonstrado nas pesquisas. Dessa maneira, a vantagem de se engordar um animal cruzado em relação ao Nelore está no fato de acelerarmos a venda do produto, diminuindo o custo operacional final que sobrecarrega a produção de carne anual da fazenda.
Quando se optar por cruzamento deve-se usar às fêmeas F1 Angus como matrizes, aproveitando a precocidade sexual das mesmas, fazendo IATF nelas quando estiverem com 300 kg. Dessa maneira, ganham muito peso durante a gestação e desmamam um bezerro pesado. No entanto, quando falamos no reaproveitamento da primípara F1, reconcebendo-a, esbarramos no tamanho adulto da mesma.
Outra questão corriqueira nas palestras, exige uma abordagem absolutamente racional; caso o criador tenha reposição de novilhas em quantidade suficiente para manutenção do rebanho matrizeiro e as F1 Angus estejam desmamando bezerros com menos que 45% em relação ao peso delas, digo com total clareza: “Abata as F1 pesadas, assim que perceber que desmamam bezerros leves”.
Ao final de cada palestra, recorri à outra questão: “Qual o futuro mais próximo para o criador que faz o ciclo completo quando pensa em escolher a genética que deve usar? Se inseminarmos as vacas, quando teremos seus filhos abatidos?” E sem esperar resposta emendei: “Quatro anos! Sim, quatro anos são necessários para inseminar, gestar, desmamar, recriar, engordar e abater um boi. Assim, fiz um alerta: “Quando vocês forem definir raças e touros, projetem o futuro, e pensem se até lá terão confinamento, suplementação nutricional para o gado, melhor manejo, etc., pois o sêmen de hoje é o boi daqui a quatro anos. Portanto, não se pode errar na escolha da genética certa, seja comprando touros de programas sérios de melhoramento, ou através de sêmen de touros provados para cruzamento”.
Concluindo: jamais na história recente da pecuária vimos condições tão propicias para se investir na fazenda, pois se conseguiu fazer 1 km de cerca com o valor de 30 arrobas, reformar 1 hectare de pastagens com o valor de 17 arrobas, fazer um bom curral com o valor de 700 arrobas e comprar uma dose de sêmen de touros provados com 4 kg de bezerro. A hora é essa, investir já para colher rápido.
“Caso o criador tenha reposição de novilhas em quantidade suficiente para manutenção do rebanho matrizeiro, e as F1 Angus estejam desmamando bezerros com menos que 45% em relação ao peso delas, digo com total clareza: abata as F1 pesadas, assim que perceber que desmamam bezerros leves”.
Crônica publicada em 24 de abril de 2015.