A vaca 31 da Indaiá

Quando Eduardo, o proprietário do fino restaurante de Campo Grande nos apresenta a carne produzida na Fazenda Santo Antonio, de prontidão vemos o alto grau de mármore (marbling) de cada corte por nos escolhido. São nomes diferentes, como; Prime Rib, Shoulder, Ribeye, Entrecot, Ancho, dentre tantos outros que nos levam as vezes a comer um pouco demais.

Ao final daquela deliciosa refeição questionei Eduardo sobre a carne preferida por ele para atender sua exigente clientela. O mesmo foi direto ao ponto. “Aqui não posso errar Zadra, fiz teste com inúmeras raças, onde das raças que assei a carne, o Hereford e o Angus foram as que melhor resultaram em alta maciez e mármore.

Para obter o padrão de maciez que não abro mão, uso carcaças de novilhas que sejam pelo menos ½ sangue dessas raças”. E completou Eduardo, “sendo assim, buscamos como parceiro a Fazenda Indaiá, a qual vem produzindo essas fêmeas jovens recriadas a pasto e engordadas num confinamento de poucos dias. Nos nossos testes de maciez, sabor e mármore esse tipo de animal atende nossas exigências, além de apresentarem carcaças com acabamento ideal para assarmos”.

Da caçamba da caminhonete do Junior podia sentir o frescor daquela manhã conforme nos deslocávamos entre pastos das mais variadas espécies da fazenda Indaiá, propriedade localizada no leste do Mato Grosso do Sul (MS). Na visita eu tinha a companhia de Beto Guimarães e Lucas, consultores na área de genética e nutrição. Tínhamos como objetivo avaliar geneticamente o rebanho a fim de sugerir os acasalamentos que melhor se encaixariam no sistema de produção, atendendo ainda a demanda de mercado exigida pelo projeto, fornecer ao restaurante fino do Eduardo as carcaças com carne macia e marmorizada.

Bruno, veterinário do grupo, foi nos dando informações importantes sobre o sistema de recria da Indaiá, deixando claro que após a desmama todos animais são mantidos exclusivamente a pasto até a fase de engorda, onde são engordados no confinamento.Naquelas bandas do MS, o calor no verão beira os 40 graus, clima quente típico da região, exigindo total adaptabilidade e resistência dos animais ao calor.

Contrariando todas teorias da ambiência, a Santo Antonio vem criando e selecionando a raça Brangus a fim de produzir touros que possam cobrir suas matrizes Bramanel após a inseminação realizada com sêmen de Angus. As raças Angus e Brangus foram primeiramente escolhidas pela qualidade superior da sua carne.

Bezerros 31 – filhos de Brangus e matrizes Zebuinas

Os lotes de matrizes Bramanel da Indaiá deixam qualquer técnico maravilhado com a conformação de carcaça e habilidade materna.

Vaca Brahmanel, muita estrutura e ótima habilidade materna

Como citado anteriormente, tais vacas são inseminadas com Angus e repassadas com os touros Brangus da fazenda e Braford adquiridos no mercado. Esse repasse de Brangus e Braford nas matrizes Bramanel geram animais com aproximadamente 31% de sangue britânico. E foi atrás delas que fomos para fechar nossa excelente visita a Santo Antonio.

Novilhas 31 da Indaiá, boa precocidade sexual e adaptabilidade

Tão logo encontramos as novilhas “31”( apelido que dei descrevendo seu grau de sangue europeu) Junior me inquiriu, “ E agora, Zadra, o que acha que devo fazer com essas novilhas? Engordo e abato essas novilhas no mercado comum ? Ou coloco essas fêmeas em reprodução? E qual raça posso usar como touro ou sêmen sobre elas para continuar fornecendo carne macia ao restaurante do Eduardo?” Lembrando que as mesmas seriam recriadas totalmente a pasto descartei o uso de sêmen de europeu sobre elas, pois a progênie terá aproximadamente 66% de sangue de raças europeias, não suportando a recria no sistema extensivo da Indaiá.

Chegamos na conclusão de que a melhor raça para ser acasalada com as novilhas “31” da Indaiá seria o Bonsmara, pois é uma raça 100% taurina, sendo relativamente adaptada se for usada como touro, além de ter sido selecionada para produzir carne macia. As novilhas Bonsmara x “31” gerarão uma progênie com 65% de sangue taurino, o qual atenderá as exigências do restaurante, produzindo ainda um animal com pelo zero, totalmente adaptado ao calor dos trópicos.

Na visita fizemos também algumas recomendações de touros Angus com alta DEP para mármore com altíssima acurácia, fator exigido pelo Junior, não deixando de possuir ótimas DEPs para acabamento de carcaça, altura moderada, peso de carcaça e eficiência no confinamento.

Dia desses encontrei num evento meu amigo Jorge Santana, gerente da GAP Genética, um dos melhores rebanhos de Brangus do pais, o qual esteve visitando a Indaiá. Fiquei surpreso e muito feliz em saber que também vem usando o apelido carinhoso de “31” as matrizes filhas de Brangus x Zebu, as quais são ótimas matrizes, comumente chamadas de 5,5/8.

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