Confinamento como ferramenta estratégica

No mesmo momento que o dr. Zanetti, nosso professor de Nutrição, inserira no retroprojetor a transparência descrevendo o método de cálculo de ração denominado “Quadrado de Pearson”, minha identificação com a matéria se corroborava a cada instante. Até então eu não podia acreditar que, com uma fórmula relativamente simples, eu teria o mundo da nutrição animal em minhas mãos. Naquele época, os programas de cálculos nutricionais no Brasil estavam engatinhando e essa ferramenta era tudo o que restava para os zootecnistas recém formados demonstrarem algum conhecimento em nutrição.

Essa paixão inicial pela matéria me direcionou a estágios extracurriculares em fazendas que trabalhavam com a pecuária de ciclo completo e, sobretudo, lançavam mão do confinamento como ação estratégica na propriedade. Nesses locais, eu teria chance de aplicar na prática, meus parcos conhecimentos de nutrição, utilizando na ração todo tipo de resíduo da agricultura e das usinas de cana, como bagaço de cana desidratada, melaço e cama de frango (na época o uso era permitido).

Daí era só enriquecer com milho e soja (ou outras fontes energéticas e protéicas mais baratas), utilizando os valores descritos no NRC para cada componente no método do “Quadrado de Pearson”, a fim de conseguir a proporção ideal de cada alimento na ração na obtenção do ganho de peso desejado para cada categoria animal. Lembro-me bem quando abordando o assunto de confinamento junto aos produtores e invernistas da época eles tratavam o tema de forma inexpressiva, pois, já tendo pasto de “graça”, por que deveriam confinar.

Com a valorização das terras, a pecuária se tornou uma atividade de menor renda comparativamente à agricultura moderna, havendo a migração da cria para regiões de fronteira. Concomitante a isso, o resíduo agrícola barato (farelo de soja, milho, caroço ou torta de algodão) disponível contribuiu de forma insofismável para que o confinamento se firmasse como investimento de oportunidade a inúmeros entrantes na atividade, na qual, nos últimos 10 anos, temos vivenciado um incremento impressionante no número de animais terminados no cocho.

Quando os profissionais da nutrição animal vendiam seu serviço, se jactavam dos lucros fáceis do confinamento. Era somente seguir as orientações de construção das instalações apropriadas, espremer ao máximo os criadores e recriadores, comprando gado magro na bacia das almas, e utilizar a ração calculada pelos “exímios” profissionais da área, e pronto; o lucro estava garantido. A proposta entusiasmou grandes grupos de investidores a colocar dinheiro na atividade, criando centenas de “boitéis” próximos a regiões de resíduo agrícola farto.

A meu ver num futuro próximo o confinador profissional de anos atrás deverá achar a fórmula para vender uma mercadoria mais valorizada, comprando, por exemplo, produtos de cruzamento industrial de qualidade, que sejam castrados ou inteiros, mas que atendam a demanda dos frigoríficos que vêm desenvolvendo programas de premiação para bovinos superiores, com acabamento e peso ideal no abate, além de continuar na busca por preço baixo nos ingredientes da ração, mantendo eficiência máxima no sistema.

Tenho a certeza que o confinamento deverá retornar como ação estratégica na pecuária, na qual não se pode abrir mão dessa ferramenta importantíssima que sequestra os animais de recria exatamente na época da seca, momento pusilânime da fazenda, que luta para manter a massa forrageira até o início das águas.  Lembro que, como no cálculo econômico do confinamento, deve-se sempre inserir o custo mensal de R$ 25,00 a R$ 35,00 do boi no pasto, o que pode economizar pelo menos seis meses de pasto por boi.

Confinamento Australiano. Machos castrados engordados nos mesmos piquetes que as novilhas

Bois Angus e Brangus com 14 meses de idade pesando 590 kg. Renato (MS)

 

 

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